Foto: PF / RF / Divulgação

A Polícia Federal e a Receita Federal descobriram que o maquinário usado pela organização criminosa, dedicada ao contrabando e à fabricação clandestina de cigarros, utilizava equipamentos descartados pela própria indústria legalizada do setor. Na manhã desta terça-feira, 19, a operação Tavares foi deflagrada pelas duas instituições contra o grupo investigado há cerca de um ano no Rio Grande do Sul. Estão sendo apurados os crimes de contrabando, falsificação de cigarros, trabalho análogo ao de escravo, corrupção de menores e crime ambiental, entre outros.

O superintendente regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul, delegado Aldronei Antônio Pacheco Rodrigues, destacou o fato das máquinas descartadas chegarem frequentemente nas mãos da organização criminosa. “Se houvesse as cautelas necessárias de descarte desses equipamentos, este crime seria impossível no Brasil”, frisou. Ele defendeu a destruição das máquinas que não são mais utilizadas pela grande indústria. “Esse tipo de discussão tem que ser travada”, considerou.

O chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal no RS, Francisco Velter, enfatizou que a grande indústria involuntariamente está “alimentando o crime” e acaba sendo a vítima. Ele propõe também que as máquinas descartadas sejam destruídas após a renovação do parque industrial. “É o descarte delas que está indo parar nas mãos dos criminosos na venda como sucata”, resumiu. Francisco Velter constatou que os números de identificação dos equipamentos adquiridos pelos criminosos são apagados para dificultar o rastreamento.

Responsável pela investigação, o delegado Wilson Klippel Cicognani Filho, da Polícia Federal, observou que a fábrica clandestina era itinerante, mudando de cidade no RS, após cada ciclo de produção que durava entre seis e oito meses por ano. Os trabalhadores paraguaios eram trazidos no período. Depósitos eram mantidos na cadeia produtiva ilícita. Segundo ele, todos os dejetos eram “descartados no ambiente natural, sem tratamento”, em uma área verde em Sapiranga.

De acordo com o trabalho investigativo, os cigarros ilegais produzidos abasteciam todo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e até o Uruguai. O tabaco empregado na produção clandestina vinha sobretudo de Santa Cruz do Sul e de Vera Cruz. Já os insumos seriam provenientes do Paraguai, mas passavam antes por São Paulo.

O delegado Wilson Klippel Cicognani Filho disse que a investigação mirou igualmente a lavagem de capitais da organização e a consequente descapitalização dos criminosos. “É um grupo que tem alta capacidade de produção de cigarro e de evadir tributos”, apontou. “Foi um trabalho árduo, pesado e difícil, mas que está logrando êxito”, comentou.

Por sua vez, o superintendente da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Luiz Bernardi, ressaltou que esta atividade ilícita “causa dano à empresa brasileira e à fazenda pública”. Ele citou ainda os problemas à saúde.

A ação desta terça-feira resultou na apreensão de cerca de 20 mil caixas de cigarros ilegais e na prisão de 24 envolvidos no esquema. O produto, que soma 10 milhões de maços, foi avaliado em R$ 50 milhões, sendo que em tributos federais corresponde a R$ 30 milhões sonegados. Houve ainda o sequestro judicial de 13 imóveis e recolhimento de 56 caminhões e automóveis, além do bloqueio de 23 contas bancárias que podem atingir R$ 600 milhões.

Um total de 18 paraguaios que trabalhavam possivelmente em condições análogas à de escravidão está sendo procurado pelas equipes da PF e da RF. Eles eram cooptados e ingressavam no país através de Foz do Iguaçu, no Paraná, na fronteira com o Paraguai.

Houve o cumprimento de 40 mandados de prisão e outros 56 mandados de busca e apreensão no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. No RS, a ação aconteceu em Triunfo, Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Novo Hamburgo, Anta Gorda, Vera Cruz, São Leopoldo, Montenegro, Sapiranga, Portão, Balneário Pinhal, Estância Velha, Parobé, Lajeado, Paverama, Alvorada, Capão da Canoa, Santa Cruz do Sul e Porto Alegre. No PR foi em Cascavel. Já em SP ocorreu em Guarulhos, Santana do Parnaíba, Araçariguama e Mairinque.

A ação mobilizou 250 agentes da Polícia Federal e 60 servidores da Receita Federal, tendo apoio da Brigada Militar e acompanhamento do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho e Previdência Social.

A investigação começou no ano passado com o objetivo de apurar a prática de contrabando de cigarros na Região Metropolitana de Porto Alegre. Diligências realizadas identificaram então a existência de uma organização criminosa estruturada para a produção clandestina de cigarros no Rio Grande do Sul.

Fonte: Correio do Povo

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