Glória e sucesso mantêm a lenda viva enquanto o homem envelhece. O futebol comemora nesta sexta-feira os 80 anos de Edson Arantes do Nascimento, Pelé, o rei do esporte mais popular do mundo. A enxurrada de exaltações vem de várias frentes. Os elogios são o resultado de uma vida nota 10, como o número da camisa que vestiu durante 21 anos de carreira esportiva, quando foi responsável por popularizar um esporte que para muitos é religião.

“Espero que, quando eu morrer, Deus me receba da mesma forma que o mundo todo me recebe hoje em nome do nosso amado futebol”, disse em um vídeo o Rei, considerado pela Fifa o melhor jogador do século 20, distinção que divide com o argentino Diego Maradona. Atingido nos últimos anos por problemas no quadril que afetam sua mobilidade, o atleta que deu ao Brasil três Copas do Mundo (1958, 1962 e 1970) baseadas no “jogo bonito”, marca até então imbatível, mantém intactos seu carisma e seu particular humor.

Quando o mundo começou a festejar o seu aniversário, que ele se recusa a celebrar com festas, o Atleta do Século XX gravou um vídeo para agradecer as mensagens de parabéns e falar sobre seu bom estado de saúde, que não esteve tão bem recentemente por conta de problemas urinários que o levaram a ser internado. Pelé só tem um rim, o outro perdeu devido a uma lesão enquanto ainda era jogava futebol.

“Tenho que agradecer a Deus pela saúde de chegar aqui, nessa idade, e lúcido, não muito inteligente, mas lúcido”, brincou ele no vídeo gravado em sua casa em Santos, onde está confinado para evitar a Covid-19.

 “O melhor”

Ex-companheiros e adversários dedicam mensagens para relembrar as façanhas do mineiro nascido em 23 de outubro de 1940, entre elas os 1.281 gols em 1.363 partidas, número questionado por alguns por incluir jogos não profissionais.

“Pelé, além de ser o melhor jogador de todos os tempos, é um símbolo da excelência, da precisão, do talento, no futebol e em todas as atividades humanas”, disse Tostão, companheiro com quem brilhou na conquista da Copa do Mundo no México em 1970. “Você é o melhor de todos os tempos”, disse o alemão Franz Beckenbauer, companheiro de time no Cosmos em Nova York no final de sua carreira.

O ex-meia Paulo Roberto Falcão afirmou que o ex-jogador do Santos é responsável pelo “reconhecimento internacional” do Brasil como potência do futebol. “Até o aparecimento de Pelé, o Brasil tinha um futebol considerável (…). A partir De Pelé se tornou o futebol mais vencedor do mundo”, explica à AFP Jorge Barraza, autor do livro “Futebol, ontem e hoje”.

Também foi elogiado por músicos com quem compartilhou alguma canção, numa faceta artística que o levou a atuar em Hollywood. E até políticos, que podem ser considerados “colegas” depois que ele foi ministro dos Esportes durante parte do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). “Meus parabéns. Oitenta anos, 800, mais de 800, mil e tantos gols, tantas coisas lindas na sua vida!”, escreveu o cantor e compositor Gilberto Gil.

Currículo brilhante

Em Santos, o artista plástico Kobra pintou um mural em sua homenagem. O clube paulista, onde estreou aos 15 anos, em 1956, vai colocar uma placa em sua homenagem no estádio Vila Belmiro.

Longe das glórias do passado desde que Pelé partiu para os Estados Unidos, em 1974, onde se aposentou três anos depois, e mergulhado em profunda crise econômica, o Peixe deve ao astro brasileiro seis de seus oito campeonatos brasileiros, duas de suas três Libertadores e dois títulos Intercontinentais.

No extenso currículo do rei, ele se destaca por ser, aos 17 anos, o jogador mais jovem a marcar um gol e vencer uma Copa do Mundo. Também é o maior artilheiro da Seleção Brasileira, com 77 gols em 92 jogos, marca que pode ser superada por Neymar, também revelado pelo Santos e atualmente com 64 gols.

A lista de candidatos para destroná-lo sempre foi seleta, mas polarizada: Di Stéfano, Maradona e Messi. Embora Pelé peça para que não sejam ignorados Beckenbauer ou Cruyff. Onde parece não haver dúvidas é em seu papel de primeiro atleta global, o que o tornou uma figura desejada por patrocinadores e governos. É por isso que muitos o acusam de ser “chapa branca”.

No entanto, ele foi submetido ao monitoramento da ditadura militar brasileira (1964-1985). A estrela diz que se recusou a jogar a Copa do Mundo de 1974 porque o regime “estava exigindo demais do povo”. Pai de sete filhos e casado três vezes, o rei agora evita aparições públicas, nas quais às vezes é visto em uma cadeira de rodas. Sua família diz que sonha em viajar para o Mundial do Catar em 2022. E ele, brincando, responde que não tem “condições para jogar”.

*AFP

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