Passado pouco mais de um ano que o coronavírus começou a infectar brasileiros, diversos estudos de vacinas para prevenir o desenvolvimento da Covid-19 estão em andamento em centros de pesquisas do país. Embora já haja uma série de imunizantes disponibilizados no mercado, a escassez desses produtos ainda é uma ameaça para o controle da pandemia no mundo.

Além do mais, especialistas avaliam que a Covid-19 deve ser uma doença que veio para ficar, assim como a gripe, o que justifica ainda mais a importância de pesquisas brasileiras para produzir vacinas sem necessitar da importação de matéria-prima. As mutações do vírus podem exigir adaptações dos imunizantes já existentes, algo facilitado quando se tem domínio da tecnologia no próprio país.

Um levantamento feito pelo R7 encontrou 15 linhas de pesquisa de imunizantes 100% nacionais: na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), junto com a Fiocruz Minas, e no Instituto Butantan.

Butanvac

Na sexta-feira, o Instituto Butantan anunciou que pretende, ainda neste ano, produzir 40 milhões de doses da Butanvac, uma vacina contra Covid-19 que usa tecnologia de vírus inativado, a mesma da vacina da gripe usada todos os anos no SUS. Na noite desta sexta-feira, o Instituto protocolocou o pedido para autorização para testes clínicos (em humanos) junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Uma das principais vantagens é que se trata de uma vacina de segunda geração e já estará adaptada para fornecer proteção mais elevada contra a variante do coronavírus surgida em Manaus (P.1).

InCor

Uma das sete vacinas estudadas em São Paulo é a do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP (InCor). As pesquisas começaram logo após o sequenciamento genético do vírus, e os testes em humanos devem ter início ainda em 2021.

O projeto recebeu aportes de R$ 25 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A vacina utiliza uma tecnologia nova que usa pseudovírus. O antígeno é aplicado por spray nasal. Além dessa, há uma vacina de nanopartículas sendo desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Os testes em humanos aguardam autorização da Anvisa.

Cientistas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP trabalham em um imunizante de vetor viral (assim como Sputnik V, Oxford e outras). A diferença é que utiliza um vírus causador da doença de Newcastle (que infecta aves domésticas e selvagens) como plataforma para transportar pedaços do coronavírus. A proposta inclui também uma vacina contra Covid-19 para gatos, já que eles também podem adoecer.

Já o Instituto de Ciências Biomédicas da USP tem quatro propostas de vacinas, que usam tecnologias de DNA, RNA, subunidade e nanopartículas. Todas ainda estão na fase de testes pré-clínicos.

Fiocruz Minas

Em Minas Gerais, a UFMG e a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) planejam lançar uma vacina bivalente, contra Covid-19 e gripe. “A técnica consiste em usar o vírus da influenza como vetor vacinal. Como se trata de um vírus defectivo para a multiplicação, ele não causa a doença, mas gera produção de anticorpos”, explica o pesquisador Ricardo Gazzinelli, líder do Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e coordenador do INCTV (Instituto de Ciência e Tecnologia de Vacinas).

Os cientistas fizeram várias alterações genéticas no vírus H1N1 para inserir nele a proteína de pico do coronavírus. A intenção é que, depois de inserido no organismo, o vírus dotado dessa parte dessa proteína estimule o corpo humano a produzir os anticorpos para a Covid-19, ao mesmo tempo que protege o organismo da influenza, diz a UFMG.

Assim como a do InCor, a vacina desenvolvida em Minas é aplicada por via nasal, só que em duas doses. O imunizante estudado pela UFMG em estágio mais adiantado é o que usa DNA. “Os antígenos do SARS-Cov-2 são incluídos em um plasmídeo, o que promove sua expressão nas células do organismo e apresentação ao sistema imune, induzindo à resposta celular de defesa. Mais estável que o RNA, o DNA viabiliza que essa vacina seja mais facilmente trabalhada, uma vez que ela pode ser armazenada em freezers comuns, facilitando, assim, o armazenamento e a logística de distribuição. O processo de produção se assemelha ao das vacinas de RNA, porém com o acréscimo de uma etapa, a de transcrição do DNA em molécula de RNA”, explica a universidade.

Outra vacina estudada por pesquisadores mineiros é uma que utiliza o vírus causador da varíola como vetor (meio de transporte) para levar proteínas do coronavírus e gerar resposta imunológica. A tradicional vacina BCG, aplicada em bebês contra a tuberculose, faz parte de outra linha de pesquisa em MG.

“Essa vacina baseia-se na inserção de sequências do genoma do SARS-Cov-2 em bacilos de Calmette-Guérin (BCG), os causadores da tuberculose. O objetivo é que a modificação genética induza os bacilos a produzir as proteínas S e N do SARS-Cov-2. A vacina é ambivalente, pois, depois de inserido no organismo, o composto o estimula a produzir anticorpos contra covid-19 e a própria tuberculose”, acrescenta.

Os cientistas da UFMG também trabalham para criar no Brasil vacinas com tecnologias que já estão sendo usadas hoje, como a que usa o vetor viral do adenovírus 5 (causador de resfriado comum) — CanSino e Sputnik V —, e de RNA mensageiro — Pfizer e Moderna.

Fonte: Correio do Povo

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